Este sábado foi dia de caminhar por alguns dos mais belos trilhos de dos bosques de Sintra…
Convidámos alguns amigos e, em muito boa companhia (facto devidamente relembrado diversas vezes pelo AM), partimos para a Barragem do Rio da Mula, cuja bacia se encontrava completamente cheia… A vazar, de tão cheia que estava!!
Passando o portão, avançámos pela barragem, observando o forte caudal da água que descia por ali abaixo… "'Bora andar de escorrega?!", sugere o RR…
Mas ao invés disso, iniciámos o trilho como sempre, com uma subidinha, desta vez com obstáculos… É que, devido à tempestade da semana anterior, houve milhares de árvores arrancadas pelas raízes que tombaram sob a força dos ventos… Não passámos por milhares, mas tivemos que contornar, saltar, passar por baixo e até trepar por algumas delas. O solo também mostrava ainda sinais das chuvadas da semana, com canos que habitualmente estão enterrados a surgir por entre as gretas abertas no chão…
Ora íamos nós a subir quando de repente, a GG amanda um pulo para trás e dá um grito!! "Uma cobra!!", pensei eu, olhando para o chão à procura do rastejante bicho, mas afinal não… A GG estava a fazer a interpretação do "Eu vi um sapo!!" Lá tirámos umas fotos ao assustado bicharoco que, aos saltinhos se afastou, escalando por um montinho de terra e desaparecendo num buraco…
Deixando o Cocas para trás, fomos avançando pela subida, seguindo o Trilho das Minas acima…
Aproveitando para fotografar as acácias em flor orvalhada… Algo que se tornou difícil para o PR, com a GG a agitar as folhas, qual David Attenborough, para nos informar que "As acácias vêm da Austrália!!" Malandrice!! Hihihihi!! :)
Depois de umas valentes risadas, continuámos a avançar, observando os cogumelos que neste ambiente húmido proliferam, com os seus capuzes vermelhos e chapéus cónicos… Ali ficam eles, a ver-nos passar…
Mais à frente, descobrimos a urze (
erica australis). Ora tinha eu acabado de fotografar este belíssimo exemplar quando a planta começa a abanar por todo o lado… Era o amigo PR que, à semelhança da GG, estava armado em David Attenborough, agitando a planta!! Malandrice!! Já a foto estava tirada!!
Continuamos a subida até à Pedra Amarela, onde apreciamos a vista em redor… De um lado a serra e a Peninha, do outro, o mar, onde o sol começa a brilhar…
Deixamos este ponto alto e entramos em ritmo de cruzeiro, palmilhando estes belos trilhos e observando a flora deste fantástico bosque… Cedros, Carvalhos e pinheiros curvados, surgem em ondas de vários tons de verde e dourado…
Mais à frente, as minas voltam a aparecer, pontuando de branco o bosque de árvores vestidas de heras…
Mais uns passos e já se avista a
Peninha e a sua altaneira capela da Srª da Conceição, erigida no séc. XVII, em virtude da lenda da pobre Pastorinha Muda de Almoinhas Velhas que, durante o reinado de D.João III (séc. XVI), aqui vira uma senhora e após esse encontro terá começado a falar, anunciando à incrédula mãe a existência de pão na arca de casa… No local do encontro apareceu uma imagem. E por 3 vezes terá sido colocada na ermida de São Saturnino (mais abaixo) e por 3 vezes terá reaparecido misteriosamente no topo do penhasco, em local de difícil acesso. Por esse motivo o local começou a ser culto de peregrinação e no séc. XVII o ermitão de S.Saturnino – Pedro da Conceição, aqui mandou edificar a capela.
Passando a
ermida de S.Saturnino, fundada por D.Pêro Pais e que já existia no séc. XII (talvez como remanescente de algum templo romano dedicado ao culto do deus
Saturno), subimos até à Peninha, aproveitando as vistas, sobre a serra e sobre o mar…
Uma vez lá em cima, aproveitamos para uma breve pausa e para merendar!!! Já são horas e o estômago está a refilar!! :) Abrigamo-nos, junto à capela, à porta do
palacete aqui mandado construir em 1918, por António Carvalho Monteiro – o Monteiro dos Milhões, o mesmo da Quinta da Regaleira. Este é mesmo um local muito especial… E aproveitamo-lo bem.
Descemos então da Peninha, re-visitando, contemplando (e claro, fotografando) a Ermida de São Saturnino…
Depois disso, tomamos um trilho surpresa que nos remete para o bosque profundo… E que agradável surpresa foi descobrir este carreirinho, que afinal até faz parte de um PR, que nos leva por entre árvores vestidas com de hera entrelaçada… O céu aqui não é mais que uma réstia de azul que surge por entre as ramagens… E a luz confere a este local um aspecto místico, solene, mas muito agradável…
Aqui encontramos também vestígios do vendaval da semana anterior… Vendaval que deitou por terra algumas destas árvores, arrancando-as ao solo pela própria raiz… Homenageamos estas árvores tombadas e prosseguimos o nosso caminho até chegarmos a um estradão, onde viramos à direita…
Encontramos mais à frente uma lagoa verde… Tão verde quanto a hera que a rodeia… É como uma janela para outro mundo…
Continuamos pelo meio do bosque, indo dar à estrada, onde vemos alguns exemplares de árvores de majestoso porte, ao redor das quais até se poderiam contar estórias… Como a da pastorinha e dos seus irmãos, ou dos amantes que para sempre ficaram juntos, como troncos de uma mesma árvore
Este é mesmo um local fabuloso, que nos eleva o olhar para o céu entrecortado de folhas, onde o sol mal penetra por entre as ramagens…
Adorávamos ficar por aqui, mas o trilho continua, por entre as acácias em flor… "Tens mesmo a certeza que é por aqui?", pergunta a GG. "Tenho, tenho…", respondo entre um arbusto e outro. O trilho, parece feito para gente pequenina, como que a proteger o que a seguir aqui se encontra…
A
Anta de Adrenunes…
Classificada, desde 1910 como
monumento nacional, terá sido, em tempo idos, uma sepultura colectiva, «voltada a poente para no cessar do dia o pôr-do-sol iluminar o sepulcro de todos que nele residem. É um monumento híbrido, que conjuga elementos naturais da Serra granítica com alguns elementos arquitectónicos, tornando assim a
Anta de Adrenunes em Sintra, num sítio de uma ainda maior mágica beleza».
Uma vez no seu interior, o céu surge emoldurado pelas rochas que a compõem, ao fundo de um estreito corredor aparece uma nesga de luz e por todas as rochas, brilham, quais pedras preciosas, pequenas gotas de água presas no musgo… É um outro mundo…
Lá fora, a capela da Peninha surge no horizonte, elevando o nosso olhar para o imenso azul e branco que pintavam o céu…
Cá em baixo, a nossa atenção repartia-se entre os apontamentos de verde que surgiam por entre as rochas, ou um pequeno bosque de carvalhos (?) despidos de Inverno e vestidos de musgo…
Deixamos então este local místico, pelo mesmo trilho por onde viéramos, endireitando as marcas derrubadas pelo vento e passando por belos exemplares de urzes brancas – ou
ericas lusitanicas…
Regressamos pois ao bosque, onde ainda se notam vestígios da ventania da semana anterior sob a forma de árvores com as suas raízes expostas, tombadas, suspensas e suportadas por outras…
Passamos então as Pedras Irmãs e a sua fonte, fazemos um pouquinho de alcatrão e viramos depois à esquerda apanhando um trilho que nos leva a mais um ponto emblemático do Monte da Lua - o
Tholos do Monge. Também neste trilho tivemos de trepar por cima de árvores caídas, o que ajudou a abrir o apetite para o belo almocinho que piquenicámos em pleno Tholos, aproveitando o belíssimo solinho que ali se fazia sentir…
Já de barriguinha cheia, regressámos ao bosque, onde as árvores se vestem de heras, passamos por um círculo de pedras, enveredamos por um carreirinho e daí pelo trilho que nos leva até ao Monumento dos Soldados, em memória dos 25 soldados que aqui morreram num incêndio em 7-Set-1966.
Começamos então a descer até ao cruzamento, junto aos Capuchos, onde viramos para um trilho pejado de acácias amarelas – infestantes coloridas e aromáticas, que perfumam o ar com o seu doce cheiro, irresistíveis para os fotógrafos…
Deixamos para trás as acácias e metemos pelo formidável Trilho das Pontes, refeito, em homenagem ao Dimas e lá vamos nós, pisando as várias pontes, feitas de tronquinhos, colocadas sobre os regatos que a ribeira da Mula vai formando…
Descemos, assim a par com a ribeira, ouvindo-a cantar, embalando os nossos passos com uma tranquilidade natural que nos faz esquecer o mundo "lá fora"…
Mais à frente quase tomamos um banho de espuma, formada pela passagem da água de encontro aos troncos… Serão resíduos de gorduras, resinas e óleos, uns naturais, outros talvez nem tanto que acabam por formar este fenómeno?
Mais à frente um outro fenómeno, mais natural, o destes pequenos fungos que se vão desenvolvendo nas cascas de algumas árvores, como que florescendo a partir delas…
Voltamos ao trilho que acompanha a ribeira da Mula, serpenteando pelo meio das árvores que revelam a nossa pequenez… Somos formiguinhas coloridas que deambulam no em redor destas bravas guerreiras…
E tal como a ribeira ao encontrar a barragem com o mesmo nome, também a nossa caminhada termina por aqui… Aproveita-se para a foto deste pequeno Grande grupo e depois de uma breve passagem pela Casa do Preto para levarmos uns docinhos connosco, despedimo-nos…
Até uma próxima… Tockandar!!!