Os Amigos do Trilho foram a Montalegre, caminhar lá por Trás dos Montes, descobrindo o que as Serras do Larouco e do Gerês têm que fazem estas gentes tão especiais.
Dia 1 – A Chegada a Montalegre
Chegámos a meio da tarde e enquanto alguns se reuniam, outros tiveram o privilégio de assistir a uma Chega de Bois, algo muito característico destas terras de Barroso.
As tradições em volta das Chegas de Bois têm raízes antigas, do tempo dos celtas, mas basicamente é uma luta entre os ditos bichos, cada um representando a sua aldeia, que, de chifres em riste, combatem para ver qual deles o mais forte, sendo que o mais fraco termina com uma valente dor de c…abeça!!
Depois das chegas, houve lugar para o jantarinho, servido a rigor e concluído com bons licores… e aguardentes… e moscatéis…
E antes que nos desse o soninho, fomos ensaiar o Haka Barrosã, versão Amigos do Trilho…
Dia 2 – De Gralhas ao Larouco e voltar
Acordámos para uma manhã bem fria e com nevoeiro. Ninguém diria que estamos em pleno mês de Junho, mas enfim…
Estacionados os carros em Gralhas, fazemos a demonstração do Haka Barrosão para gáudio dos restantes elementos dos AT, que não perceberam muito bem o que raio teríamos nós bebido na noite anterior que nos teria dado aqueles efeitos secundários…
Entretanto, antes de partirmos, fomos abordados por um senhor que perguntou de onde éramos e para onde íamos e no final rematou, “Quando chegarem, cá vos espero!”
Com este remate lá iniciámos a caminhada pelo meio das nuvens baixas, observando parte da serra do Larouco, que se mostrava viçosa, repleta de cardos e urzes e giestas.
Num festival de amarelo e roxo e verde…
Subindo pelos trilhos em flor,
Rapidamente entrámos em território de nevoeiro…
Subimos até ao ponto mais alto da Serra do Larouco, que com o nevoeiro era igual a tudo o resto… E foi com as mãos regeladas que começámos a descer, rumo a Padornelos, aldeia que fica bem perto da fronteira galega, onde ainda existe o forno comunitário e os burricos andam pelas ruas calcetadas.
Muito bem recebidos por uma senhora da terra, que nos mostrou que também sabia cantar o Haka Barrosão, lá tivemos de continuar…
Por entre os trilhos cheios de flores, que molhadas, ainda se tornavam mais bonitas…
É o lado positivo da chuva…
Sem ela a vida não seria possível…
Nem a vida, nem estas fotos…
Por isso, avançamos, bem-dispostos!!
Descobrindo os campos de centeio, cujas espigas bailam ao ritmo do vento…
Descobrindo porque é que a galinha sobe a rampa… Para pedir à dona que nos desse um jarrinho de “binhaça” boa!!! E se era boa!!!
E mais passo, menos passo, estamos de volta a Gralhas.
Onde o tal senhor nos esperava, com uma encomenda que nos deixou assim… com estes sorrisos!!!
Há presunto, presunto, presunto!
Há chouriça, chouriça, chouriça!
Há binhaça, binhaça, binhaça!!!
A dita encomenda era um presunto enorme, mais umas chouriças e umas bicas e um bom vinho da região!! Ora esta excelente recepção devêmo-la ao Sr. Domingos Lopes de Moura, natural da aldeia de Gralhas e ex-emigrante na Suíça. Um verdadeiro e grande Senhor que nos soube acolher como ninguém, demonstrando o verdadeiro espírito hospitaleiro das gentes transmontanas!
O nosso jantar de grupo foi também alegrado pela sua presença no restaurante D.João, cujo dono foi também uma verdadeira simpatia, na forma como nos recebeu e serviu!! E depois de umas cantorias, lá nos fomos deitar…
Dia 3 – De Pitões das Júnias pelas fragas da Serra do Gerês
O dia amanheceu com melhor cara que o anterior. As nuvens persistiam, mas eram mais altas, permitindo ver melhor a paisagem em redor.
Saímos de Pitões das Júnias, com o nosso primeiro objectivo em mira… A Capela de S.João das Fragas.
E fomos avançando, por bosques verdinhos…
Cruzando riachos, umas vezes por pontes…
Outras vezes, recorrendo às mãos amigas de quem nos ajuda…
Lá avançámos nós…
Subindo e descendo os montes, coloridos de urze e giesta…
E outras flores silvestres, igualmente bonitas, como esta…
Ou estes lírios (serão?)…
Ou esta que parece uma campainha e que quando vista de baixo, contra o céu azul se revela uma flor ainda mais bonita…
Mas nem só com as flores me entretive… Também apanhei este bicharoco metalizado… Disseram-me que seria uma Carochinha… Hum… Onde andaria o João Ratão??
Sem tempo para averiguar, começámos a subir para a Capela de S.João da Fraga…
Construída algures no séc. XVI, não se sabe muito bem por quem, a alvura da capela no cimo da fraga serve de farol, orientando quem passa nestes trilhos…
Depois de apreciar as vistas em redor, desde a albufeira, a Pitões das Júnias…
Seguimos o nosso caminho
Uma vez mais por entre as flores silvestres…
Com a Capela lá por trás, vigiando os nossos passos…
Saltamos mais um ribeiro, que a água ainda abunda por estas partes
Motivo pelo qual a paisagem é tão viçosa…
Até os garranos se deleitam por estas paragens…
Por estes bosques verdes, míticos, mágicos…
Onde os ribeiros ainda entoam alegremente a sua melodia…
Descobrimos pedras que quase parecem humanos petrificados pelo olhar da Medusa, ou totens feitos para olharem o céu eternamente, vigiando os deuses…
E nós, paramos, contemplando a natureza em redor…
E sorrimos ao trilho, à paisagem, à vida…
E depois avançamos para a última etapa do percurso…
O Mosteiro de Pitões das Júnias…
Fundado no séc. IX, passou pelas mãos de Monges Beneditinos e depois para a Ordem de Cister, sobrevivendo à base da pastorícia.
Foi extinto em 1834, junto com outras ordens religiosas e no séc. XIX tornou-se nesta ruína devido a um devastador incêndio.
Por ali deambulámos e espreitámos…
E depois partimos, rumo à Aldeia de Pitões das Júnias, que quando foi avistada, suscitou “Vivas"!!” por parte da malta…
Uma caminhada das mais bonitas e esforçadas que já fizemos, mas daquelas que vale mesmo, mesmo a pena repetir!
Depois, com o físico cansado, mas o espírito retemperado e animado, foi altura de preparar as brasas para receber os Amigos do Trilho para uma bela jantarada, com cantoria, sem guitarrada, numa espécie de festa, bem animada!!
Como dizia alguém, parecia que estavam sempre a meter mais uma moedinha, que a malta não se calava!!! Foi uma confraternização especial, entre todos, à desgarrada e já a lua ia alta, quando nos despedimos e fomos para o País dos Sonhos.
Dia 4 – Castelo de Montalegre e o regresso a casa
Acordámos, um pouco mais tarde hoje… Sempre era Domingo e não íamos caminhar… Mas fomos dar um passeio a Montalegre e ao seu castelo.
Localizado no topo de um monte granítico, a uma cota de 980m, de onde se descortinam as serras do Gerês (a Oeste) e do Larouco (a Leste) e o curso do rio Cávado (a Norte), o castelo, erguido no séc. XIII, outrora um castro romanizado, domina a povoação, a poucos quilómetros da fronteira com a Galiza.
Deambulámos junto ao castelo, apreciando as vistas do Larouco e do Cávado.
E depois fizemos uma visita ao Eco-Museu do Barroso, que é algo que vale muito a pena visitar quando se vai a Montalegre.
De regresso à Casa do Fojo, onde ficámos alojados durante estes 4 dias, despedimo-nos do Toby, que nos fez companhia durante a nossa estadia.
E por entre o aroma a rosmaninho, deixamo-nos ir…
Rumo a Lisboa, com uma pequena paragem em Peso da Régua para alimentar a gula pela bela cereja branca da região!!!
Foi mais um sucesso dos Amigos do Trilho esta nossa volta por terras do Barroso. Fomos aqui melhor recebidos do que em qualquer outro ponto de Portugal por onde caminhámos. E é um local a voltar, sem dúvida!!
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