Tudo acontece por um motivo…
Neste dia o que estava planeado era uma caminhada de cerca de 34km, uma Grande Rota Dura na Serra dos Candeeiros – projecto do AJA, na plataforma Caminhar em Portugal… Mas, fruto de denúncias (infundadas), houve que proceder à alteração de planos… E acabámos numa magnífica caminhada de reconhecimento pelo Canhão Cársico da Ota, com uma fantástica surpresa no convívio final, que não teríamos tido se tivéssemos ido para o plano inicial… Tal como disse no início, tudo acontece por um motivo!
Com um grupo pequeno em número, mas grande em alma, saímos dos Olhos d’Água da Ota.
Cruzámos o rio, sobre umas “poldras” artificiais,
E começámos depois à procura do nosso trilho.
Rio acima, canhão a dentro…
Lá fomos progredindo, lentamente, descobrindo pelo meio uma gruta com figuras rupestres muito modernas!!
Cruzando o rio, ora para um lado, ora para o outro, procurando o melhor trilho que nos permitisse subir o rio, rumo ao Canhão…
Cruzando bosques belíssimos, de vegetação bem cerrada, de onde, a qualquer momento esperávamos que saltassem duendes, ou fadas…
Ou subindo a cascalheira (marca do canhão cársico)…
“Mas afinal o que é um canhão cársico?”, perguntei eu a dada altura. Paciente e sabiamente o AJA explicou-me que um canhão (ou canyon) é um vale recortado em “V”, formado – neste caso, através de um fenómeno de epigenia, que ocorre quando um rio (neste caso o Rio Ota) se vai encaixando sobre as rochas calcárias, que tendo pouco escoamento superficial, vai provocando o afundamento do vale, como que uma garganta profunda. Explicou-me ainda que os canhões podem ser de encaixe epigénico (como este) ou então de abatimento – quando são formados após o abatimento de abóbadas subterrâneas.
Contente com esta informação preciosa, lá fomos avançando, fazendo um pouco de contorcionismo pelo meio da vegetação
E descobrindo fósseis no meio das rochas do canhão…
Mas não foram só rochas que descobrimos… Encontrámos também uns cogumelos rubros, que chamaram a nossa atenção…
O verde do denso bosque trazia-me à memória estórias de anões e princesas brancas, como a neve…
Bagas pendem de alguns arbustos, lembrando as vermelhas maçãs da mesma história… E mais à frente o que parece ser a cabecita de um gato, são afinal 3 folhas estrategicamente posicionadas (ou será magia?)…
Sorridentes, vamos construindo a nossa própria história, ao encontrarmos um osso (seria de algum anão?) e descendo e subindo o trilho, que agora parece uma via rápida…
Cruzamos novamente o rio, para encontrarmos do outro lado uma lagoa profunda… AJA mostra-nos a profundidade dela, atirando pedrinhas para lá… O “plonc” da queda dá-nos a ideia da sua profundidade…
Prosseguimos na margem do rio, subindo agora…
Voltamos a encontrar as baguinhas vermelhas… Desta vez de um arbusto, “primo” do azevinho – a gilbardeira, espécie protegida, que afastamos cuidadosamente do nosso caminho, deixando-a proliferar em paz…
Continuamos a subida pela cascalheira… Há algum tempo que não fazia uma subidinha destas, só porque sim, em busca de uma vista melhor, de um trilho que nos levasse ao outro lado do monte…
No monte em frente avistamos as buracas – outra característica dos canhões fluviocársicos e que são grutas que devido ao abatimento das paredes se mostram agora como pequenas cavernas (ou buracas – como o nome indica) escavadas na rocha… Ao longe, Montejunto observa os nossos passos…
Avançando (e “fuçando”) pelo meio da densa vegetação de carrascos e tojos que nos picam e arranham, conseguimos chegar ao trilho original!!! “Ena pá, que grande ped’estrada!!!”
Tockadescer!!!
Que bem que sabe caminhar assim, solto e livre no meio da natureza…
Passo-a-passo aproximamo-nos da civilização, sob a forma da aldeia de Bairro…
Passamos ao largo desta aldeia, observando as flores de trevo que enchem o nosso caminho de cor…
Seguimos caminho, com Montejunto em mira…
E cruzamos uma vinha, onde impera o aroma da flor branca da camomila…
Mais uns passinhos e estamos a chegar a Atouguia das Cabras, onde fazemos uma breve pausa para o almoço… Aqui fica um companheiro que nesse dia não estava a 100%… Soubemos depois que ficou melhor. Não há nada como dar descanso ao corpo quando ele o pede!! :)
Os restantes 8, arrepiámos caminho, deixando Atouguia das Cabras para trás e rumando ao Monte Redondo… O famoso monte que estava para ser derrubado quando se pensava construir o Aeroporto na Ota…
Caminhamos alegremente, conjecturando nas dificuldades que teriam havido para deitar um monte destes abaixo… Só porque sim!! Mas antes de o subirmos, cruzamos a estrada e ficamos a admirar 4 cavalinhos…
E depois, tockandar que ainda temos muito que caminhar!!!
Mesmo antes da subida começar, ao passarmos por umas colmeias, tivemos de fugir das abelhas que, tomando-nos por invasores, decidiram vir até nós de ferrão em riste!! O resultado foram meia-dúzia de ferroadas, mais um ou dois puxões de cabelos (para afugentar os bichinhos do mel), mas felizmente ninguém era alérgico, pelo que continuámos o nosso trilho…
Quer dizer, até subimos mais depressa o monte à custa das abelhinhas!! E lá em cima, foi a festa!!
Sob a forma de uma flor de 8 sorrisos luminosos!!
Mas se a subida foi feita na esgalha, a descida do monte foi feita a esgalhar… pelo meio do tojo e do carrasco!!!
Até encontrarmos o trilho, não houve sarilho, mas foi durinho!!! Mas trilho encontrado, tockadescer!!!
Houve quem descesse aos pulinhos, outros aos saltinhos… Outros ainda fizeram descida em “sku” controlado a bastão… Foram só técnicas… E afinal de contas, cada um desce como quer!! :)
Uma vez em terreno mais plano, pudemos apreciar o interior de um bogalho, que continha ainda a larva original… Mais à frente, passámos num posto de observação, ou de caça, com o AJA a testar a sua pontaria (no apontar de bastão, claro está)
E continuando a caminhada, entramos em zona de perigo!!! Um local cheio de “crevasses” ou gretas, provocadas pelo aluimento das terras…
E é nessa zona que descobrimos um “filão” de algo que seria calcite, ou quartzite… Da minha profunda ignorância, apenas sei que era uma pedra translúcida belíssima que reflectia a luz do sol da tarde…
Deixámos a rocha para trás e voltámos a atravessar mais um mar de tojo e carrasco, que se colocava entre nós e o nosso destino… Uma vez mais, cada um empregou a sua técnica… Sorriso, Continência e Vira do Minho!! ;)
E assim chegámos ao ponto de início… Aos Olhos d’Água da Ota, onde depois de uns goles de água bem merecidos, quisemos conviver com algo que nos aconchegasse mais o estômago e a alma… ;)
Perguntando aos locais onde é que se comia um bom petisco, acabámos por ir dar ao Café Canina, um snack-bar em Cheganças, onde o dono nos informou que nos conseguiria arranjar umas bifaninhas… Lá nos instalámos e passado algum tempo, aparece a dona e conversa puxa conversa, pica-pau metido ao barulho e às 2 por 3 olhamos uma para a outra e “zás-catrapás-pim!” surge o reconhecimento!! Então não é que fomos colegas de escola?!! Solta-se o abraço, rasgam-se os sorrisos e vêm as recordações de outros tempos à memória…
Claro que, se até aí o dia tinha corrido bem, depois disso, foi mesmo a festa!!! E tudo culminou num festival de sorrisos, daqueles bem preenchidos!!
Um grande dia, um valente grupo, um excelente reencontro!!! Bem-hajam por este dia tão bem passado e que venham mais outros como este, em que o saborear da Vida é feito com amigos, lado-a-lado!! :)
1 comentário:
Que Maravilha! Obrigada! Adorei ler e ver as lindas fotos!
Enviar um comentário