Esperavam-nos perto de 17km de trilhos, sempre a subir e a descer por caminhos de pé posto que passariam pela Serra dos Cucos, ao Moinho do Gaio, regressando depois pelo Vale Escuro…
Às 09h19 iniciámos a caminhada, partindo da estação ferroviária de Torres Vedras, atravessando a linha do comboio e rumando depois a uma vereda que, seguindo o curso do rio Sizandro, nos levaria às Termas dos Cucos.
Inauguradas em 1893, estas termas funcionavam com banhos de lamas próprias, que tratariam problemas de reumatismo. Em 1999, as Termas encerram para não mais abrir… Questões familiares (ou não)… Fica então para apreciar o espaço, o edifício e a alameda ladeada de choupos que atravessamos…
Subimos agora a colina em frente às Termas dos Cucos. Passo a passo, degrau-a-degrau (sim que nestas caminhadas mariolas, os organizadores dão-se a esse trabalho de nos facilitarem o avanço em piso lamacento, construindo uns degrauzinhos nos declives), lá vamos nós avançando por entre os cogumelos e a vegetação que se veste de outono, seguindo as mariolas que nos marcam o caminho…
O objectivo desta subida? Ir à descoberta de uma laje muito especial, cheiinha de pegadas de dinossauros… E ei-la ao virar de um ramo…
Descobertas em 1996, consegue-se observar um trilho de pegadas de dinossauros, com umas patinhas um bocadinho maiores que as minhas!! ;) Ainda não está definido qual teria sido a(s) espécie(s) que aqui teriam deixado a sua marca, mas sabe-se que remontam ao período do Jurássico Superior, ou seja, têm 140 a 150 milhões de anos…
Maravilhados com esta novidade, metemos botas ao enlameado caminho, prontos para mais uma ou outra escorregadela que, com a devida ajuda, nos leva com segurança a trilhos mais fáceis.
Aproveitam-se as vistas para o Parque das Termas dos Cucos, de dourado vestido, onde tornamos a passar de seguida… Não resisto e caminho pelas folhas, chutando-as no ar, numa chuva doirada que cai no chão ao som do meu riso traquina. Hihihihi!!!
Em vez de seguirmos o habitual trilho junto ao Sizandro, subimos desta feita a Serra dos Cucos, embrenhando-nos no bosque, subindo e descendo, descobrindo cogumelos e enlameando as botinhas!!!
Depois da chuva que caíra de manhã, S.Pedro estava a "ensolarar" o nosso dia… E um belíssimo céu azul brilhava agora sobre o verde da serra, que agora descíamos em direcção ao Rio Sizandro e às suas azenhas em ruínas.
Pouco depois cruzamos a linha do Oeste, com vista para os 3 túneis que cruzam a serra em redor dos Cucos.
Passamos por baixo da A8, parando para observar os tons de verde que a Mãe-Natureza nos proporciona agora que a chuva parou…
E prosseguimos caminho, pelos trilhos ainda enlameados, mas mais belos que nunca.
Há algo de mágico quando a chuva pára… Se observarmos com atenção quase conseguimos perceber as plantas a crescer, como que a espreguiçarem-se, abraçando o sol…
Mais à frente um enorme cogumelo desperta a nossa curiosidade… Maior que a minha bota e que a palma da mão de um homem adulto, é algo de irresistível para os paparazzis que por ali andam!! ;)
No maravilhoso mundo dos cogumelos é assim… Ora são enormes, abrindo em leque, maiores que uma mão humana, ou então tão pequenos quanto uma folha de relva…
Continuamos o nosso caminho pelo verde, cruzando-nos com um grupo de motoqueiros que ficaram atolados na lama, sendo (ou não) socorridos por um grupo de caçadores e a sua matilha de canitos de narizito apurado.
Caminhamos agora junto a vinhedos doirados…
E mais à frente brincamos ao "Salta-Pocinhas", dando um verdadeiro tratamento de "lamas termais" às nossas botinhas. Vão sair desta caminhada sem reumatismo nenhum, vão ver!!!
Voltamos aos vinhedos, desta vez de "Bordéus" vestidos, observando o magnífico contraste de cores entre o verde, o bordeaux, o castanho e o cinza violeta que cobre agora o céu.
Maravilhados com esta pintura de Outono, vamos subindo, mirando ao longe o Moinho do Gaio, por entre novos moinhos de vento, para um outro moinho – talvez seja o Moinho da Srª da Conceição, já que tem essa imagem pintada em azulejo por cima da sua porta.
Deixamos o moinho para trás e somos empurrados por um vento agreste que nos envia serra abaixo até ao Vale Escuro…
O místico Vale Escuro, onde o trilho segue por uma linha de água, rodeada por uma vegetação cerrada, por onde os raios de sol surgem com um efeito que dá a toda esta zona uma certa aura de mistério… Parece que a qualquer momento podemos encontrar duendes e fadas neste bosque verde…
Mas em vez disso – que duendes e fadas são para histórias para meninos, temos algo de bem mais palpável!! Fósseis de amonites, ou amonóides, que o PR deixou bem escondidinhos (talvez para os duendes não fugirem com eles!! ;) e que a dada altura no caminho nos revela com um sorriso nos lábios. São magníficos espécimes destes moluscos cefalópodes do período Mesozóico que podemos observar nas mãos do PR.
Duendes e fadas não vemos, mas à medida que calcorreamos o Vale Escuro, vamos encontrando estranhos cogumelos de "saia rodada" e outros que quase parecem flores…
à medida que caminhamos para a luz, os espécimes estranhos de cogumelos transformam-se nestes mais curriqueiros branquinhos… E ao longe podemos apreciar o monte do Moinho onde antes subiramos… Parecia já ter passado muito tempo… Mas isso é porque o tempo tem outra dimensão no Vale Escuro (ou então não!!) Hihihihi!!
Subimos enfim ao Moinho do Gaio. Este moinho tinha a particularidade de servir como guia para os moinhos em redor. Isto porque devido à sua localização e altitude seria o 1º a alterar a posição das velas, consoantes as mudanças de feição do vento; os outros moinhos quando viam que o Moinho do Gaio tinha virado as velas noutra direcção, seguiam a sua dica e orientavam as suas velas à semelhança deste.
Deixando o moinho e o vento para trás, descemos uma vez mais, encontrando alguns crocos (Crocus biflorus (iridaceae)) pelo caminho. Estas flores também chamadas de Crocos de Outono, surgem precisamente nesta estação, colorindo de lilás o chão terroso…
Mais à frente, à medida que avançamos pelo solo calcário, encontramos mais vestígios de fósseis de amonites.
Vamos descendo por entre a vegetação, passando por pequenos túneis, caminhando em direcção à luz…
Passamos por um canil coberto por uma trepadeira e viramos para Torres Vedras…
Fazemos o caminho de regresso junto ao Rio Sizandro por um trilho que é uma sinfonia outonal, em tons de oiro, terra e esperança, harmonizando-se com o céu e com as flores que ainda vão resistindo à descida gradual da temperatura…
Chegamos finalmente à Estação Ferroviária de Torres Vedras, onde se dá uma cerimónia interessante da lavagem da bota!! Tockameter o pé na poça!! Sem medos!! Viva o Gore-Tex que não deixa os pezinhos ficarem molhados!!!
Terminamos esta jornada com a foto deste grupo de valentes que, neste Domingo de São Martinho, não teve receio de enlamear as botinhas e aproveitou cada momento e cada passo desta encantadora caminhada.
Venham mais caminhadas plenas de encanto assim!! E tockandar!!!
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